Biografia


Silviano Santiago, escritor, crítico literário, considerado um dos mais brilhantes ensaístas brasileiros, professor universitário e teórico de literatura, nasceu em 29 de setembro de 1936 na cidade mineira de Formiga. Por volta dos 12 anos de idade, muda-se com a família para Belo Horizonte, onde cursa o ginasial. Aos 14 anos, começa a trabalhar na empresa de seu pai, a Dental Santiago Ltda., primeiro realizando entregas e depois como balconista e escriturário. Nessa época, passa a freqüentar o Centro de Estudos Cinematográficos (CEC)[1] e lê Os moedeiros falsos, de André Gide, ABC of Reading, de Ezra Pound, e Páginas de doutrina estética, de Fernando Pessoa, livros que lhe são emprestados pelo amigo e primeiro mentor, Jacques do Prado Brandão[2]. Durante o curso clássico, Silviano escreve artigos para a Revista de Cinema[3]. Em meados da década de 50, passa a publicar crônicas e contos em periódicos mineiros. Em 1955, ajuda a idealizar e publicar a Revista Complemento[4], junto com o escritor Ivan Ângelo. No ano seguinte, conhece Glauber Rocha quando este visita a capital mineira. Ele o incentiva a ler Euclides da Cunha e José Lins do Rego.
No ano de 1956, Silviano ingressa no curso de graduação em Letras Neolatinas na Universidade Federal de Minas Gerais. Nessa época, ele escreve poemas, publicados sob o pseudônimo de Antônio Nogueira, segundo o autor, os dois nomes desprezados por Fernando Pessoa. Um desses poemas é selecionado e publicado no suplemento literário do Jornal do Brasil. Durante a graduação, diploma-se na Aliança Francesa e torna-se monitor de Literatura Francesa, conhece o poeta Affonso Romano de Sant'Anna e, em 1959, diploma-se em Letras Neolatinas. Recebe uma bolsa da CAPES
[5] para especializar-se em Literatura Francesa no Centre d’Études Supérieures de Français, no Rio de Janeiro, entre 1960 e 1961, onde passa a conviver com os futuros diretores do Cinema Novo, como Joaquim Pedro de Andrade e Walter Lima Júnior, e os críticos Sérgio Augusto e Eli Azevedo, entre outros. Em 1961,num congresso literário na cidade de Assis, em São Paulo, sela amizade com os poetas concretos, em especial, Haroldo de Campos.
A especialização em Literatura Francesa leva Silviano ao doutorado na Universidade de Paris – Sorbonne, em 1961. O tema da sua tese foi o livro Les Faux-Monnayeurs (Os Moedeiros Falsos, de 1925), do escritor francês André Gide, ganhador do prêmio Nobel de Literatura em 1947. Silviano tem a oportunidade de trabalhar com um manuscrito inédito, na época, dos primeiros capítulos desse livro. Segundo Silviano, durante os anos de estudo, ele visualizou e compreendeu, “ao ar livre das páginas escritas à mão por Gide, o difícil trato que a escrita ficcional requer”. Nessa época, ele mora em Paris e viaja pela Europa. No final de 1962, surge a oportunidade para trabalhar como professor nos Estados Unidos, onde permanece até 1974, passando por diversas universidades. Durante esse período, ele publica artigos em diversas revistas norte-americanas como Luso-Brazilian Review, Hispania e MLA. Em 1968, passa a lecionar na Universidade de Toronto, no Canadá.
Recebe convite para lecionar no Departamento de Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, em 1972, onde tem como colegas os professores Affonso Romano de Sant'Anna, Gilberto Mendonça Telles e Luiz Costa Lima. Em 1974, é nomeado Professor Associado no Departamento de Letras da PUC-RJ, tornando-se Supervisor da cadeira de Literatura Brasileira, cargo onde permanece até 1979. É contratado como professor convidado pela Universidade Federal Fluminense, em 1976, onde leciona até 1980. Nessa época, Silviano passa um semestre na Universidade do Texas, em Austin, como professor visitante. Alguns anos depois, em 1978, passa um semestre na Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, também como professor visitante. Em 1981, é nomeado Professeur Associé (visitante) na Universidade de Paris III, Sorbonne Nouvelle. No ano de 1987, ganha bolsa de pós-doutorado do programa CAPES/DAAD, na Universidade de Colônia, Alemanha. Nesse mesmo ano, é nomeado assessor do CNPq
[6] e, no ano seguinte, deixa a PUC-RJ, é contratado como pesquisador “A” pela UFRJ e como professor adjunto pela UFF e ainda, torna-se co-coordenador da área de Ciências Humanas e Sociais da FAPERJ[7]. Em 1989, é eleito coordenador de Pós-graduação em Letras da UFF, integra o Conselho Editorial da Editora da UFRJ e torna-se Consultor do CNPq para a área de Letras no âmbito de Avaliação e Perspectivas.
Entre os anos de 1990 e 1992, Silviano é nomeado presidente da Associação Brasileira de Literatura Comparada (ABRALIC) e, nos anos seguintes, continua participando do conselho editorial da revista, a qual ajudou a fundar. Durante o ano de 1992 ocupa o cargo de Diretor do Centro de Pesquisas da Fundação Casa de Rui Barbosa. No ano de 1994, auxilia Heloísa Buarque de Hollanda e sua equipe a montar o Programa Avançado de Cultura Contemporânea (PACC) na Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro e, mais tarde, redige o projeto de doutorado em políticas culturais desse programa. É convidado pelo Doreen B. Towsend Center for the Humanites, da Universidade da Califórnia, em 1995, para passar um período como “Leitor do ano”. Nessa ocasião, apresenta o trabalho: Atração do Mundo: políticas de identidade e de globalização na moderna cultura brasileira. Atua professor visitante na Universidade de Yale e realiza conferências na Duke University e na New York University, durante o ano de 1996.
Recentemente, Silviano ocupou a direção e a administração do Centro de Estudos Gerais do Instituto de Letras da UFF e atuou como coordenador adjunto do PACC, da UFRJ. Em 2009, recebeu o título de Professor Emérito da UFF. Atualmente, já aposentado como professor, continua escrevendo para os principais veículos da imprensa brasileira e do meio acadêmico – como fez ao longo de grande parte sua vida profissional – e a participar de eventos literários e acadêmicos, além de continuar a ser um ativo escritor, crítico e ensaísta. Em 2010, recebeu o Prêmio Governo de Minas Gerais de Literatura 2010, pelo conjunto de sua obra.

Notas:
[1] O Centro de Estudos Cinematográficos de Belo Horizonte é um dos mais antigos e tradicionais cine-clubes do Brasil. Foi fundado no dia 15 de setembro de 1951.
[2] Jacques do Prado Brandão (1924-2007), intelectual, poeta, amante de cinema e um dos fundadores do Centro de Estudos Cinematográficos de Belo Horizonte.
[3] Revista criada e produzida pelo CEC-BH.
[4] Revista publicada nos anos 50 e 60 por um grupo de escritores que reunia alguns dos mais importantes nomes da intelectualidade brasileira, como Heitor Martins, Affonso Romano de Sant’Ana, Vicente de Abreu, Pierre Santos e Terezinha Alves Pereira.
[5] Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior.
[6] Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
[7] Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro.

Lista de Obras Publicadas:
 
1955
Os velhos (primeiro conto - publicado na Revista Complemento).
1960
4 poetas (livro de poemas, publicado juntamente com outros autores).
1961
Duas faces (livro de contos publicado juntamente com Ivan Ângelo).
1969
Brasil: prosa e poesia (Antologia publicada em Nova York).
1970
Salto (poemas).
O banquete (contos).
1974
O olhar (romance).
1975
Ariano Suassuna (Antologia comentada).
Iracema (edição comentada do romance de José de Alencar).
1976
Carlos Drummond de Andrade (ensaios).
Glossário de Derrida (supervisor desta publicação dos seus alunos do mestrado em Letras da PUC-RJ).
1978
Crescendo durante a guerra numa província ultramarina (poemas).
Uma literatura nos trópicos; ensaios sobre dependência cultural (ensaios).
1981
Em liberdade (romance).
1982
Vale quanto pesa; ensaios sobre questões político-culturais (ensaios).
1985
Stella Manhattan (romance).
Poemas (Tradução do livro de Jacques Prévert).
1988
Brasilianische Literatur der Zeit der Militärherrschaft (1964-1988) (organizador desta obra sobre a literatura brasileira no período 1964 a 1988).
1989
Nas malhas da letra (ensaios).
1993
Uma história de família (romance).
Viagem ao México (romance).
1995
Cheiro forte (poemas).
Por que amo Barthes (Tradução do livro de Alain Robbe-Grillet).
1996
Keith Jarrett no Blue Note (improvisos de jazz) (contos).
1999
De cócoras (romance).
2000
Intérpretes do Brasil (organizador desta obra em três volumes, que reúne textos de autores que pensaram o Brasil).
2001
The Space in-between - essays on Latin American culture (Antologia de ensaios editada por Ana Lúcia Gazzola, na Duke University Press).
2002
Carlos e Mário (organização e notas da correspondência completa entre Mário de Andrade e Carlos Drummond de Andrade).
2003
República das Letras, de Gonçalves Dias a Ana Cristina César: cartas de escritores brasileiros: 1965-1995 (organizador).
2004
O Cosmopolitismo do Pobre: Crítica Literária e Crítica Cultural (ensaios).
O Falso Mentiroso: memórias (romance).
2005
Histórias Mal Contadas (contos).
2006
As Raízes e o Labirinto da América Latina (ensaios).
A Vida como Literatura: o amanuense Belmiro (ensaios).
Ora (Direis) puxar conversa! (ensaios).
2008
Heranças (romance).
2010
Anônimos (contos).
Lista de Prêmios:
 
1978
Diploma “Cidadão da Poesia”, conferido pela Ordem Brasileira dos Poetas da Literatura de Cordel.
1982
Prêmio Jabuti de Romance por Em liberdade.
1993
Prêmio Jabuti de Romance por Uma história de família.
1995
Título de “Chevalier dans L'Ordre des Palmes Académiques”.
1996
Prêmio Artur Azevedo, da Fundação Biblioteca Nacional por Keith Jarrett no Blue Note.
1997
Prêmio Jabuti de Contos por Keith Jarrett no Blue Note.
2005
Prêmio Portugal Telecom de Literatura por O Falso mentiroso: memórias.
Prêmio Mário de Andrade de Ensaio, da Fundação Biblioteca Nacional por O Cosmopolitismo do Pobre: Crítica Literária e Crítica Cultural.
2006
Prêmio Jabuti de Contos por Histórias Mal Contadas.
2009
Prêmio ABL de Ficção por Heranças.
2010
Prêmio Governo de Minas Gerais de Literatura 2010, pelo conjunto de sua obra.

 
Lista de Eventos (atualizada até o final dos anos 90):
 
1962
Congresso Brasileiro de Crítica e História Literária da USP, em Assis, São Paulo.
1966
Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros, na Universidade de Harvard.
1968
II Festival de Inverno de Ouro Preto.
1969
III Festival de Inverno de Ouro Preto.
1970
Simpósio “Geração 70 em Portugal”, na Universidade de Indiana.
1972
VI Festival de Inverno de Ouro Preto.
Comemorações do Cinquentenário da Semana de Arte Moderna, na UERJ.
1974
I Encontro de Professores de Literatura, na PUC-RJ (membro da comissão organizadora e participante).
1975
Oficina de Criação Literária na PUC-RJ (coordenador, juntamente com Affonso Romano de Sant'Anna).
IX Encontro Nacional de Escritores, em Brasília.
1976
X Festival de Inverno de Ouro Preto.
1977
Simpósio Internacional sobre História da Igreja na América Latina, organizado pela CEHILA (Comissão de Estudos de História da Igreja na América Latina e no Caribe).
Simpósio sobre José de Alencar, organizado pela Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.
I Encontro com a Literatura Brasileira, promovido pela Câmara Brasileira do Livro.
Oficina de criação do XI Festival de Inverno, na UFMG.
1978
Organizador da exposição “Arte da Gente”, em colaboração com a Universidade Federal de Pernambuco e a FUNARTE.
Debate “Brasil Anos 70: os intelectuais e a repressão”, na reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, em Fortaleza.
II Semana de Cultura Nordestina, na Universidade do Rio Grande do Norte.
1982
Ciclo de palestras sobre Lima Barreto, na Fundação Casa de Rui Barbosa.
1992
III Congresso ABRALIC (Associação Brasileira de Literatura Comparada), realizado na UFF.
1993
Membro da comissão do Prêmio Neustadt de Literatura, concedido pela revista World Literature Today. Apresenta e defende a candidatura do poeta João Cabral de Melo Neto, que é escolhido para o prêmio recebido em cerimônia na Academia Brasileira de Letras.
Comemorações do cinquentenário do texto “O Movimento modernista”, de Mário de Andrade, no Palácio do Itamaraty.
Ciclo “Tempo e história”, organizado pela Secretaria de Cultura de São Paulo.
Ciclo “O desejo, a vida e a morte”, organizado pela Fundação do Campo Lacaniano.
Projeto “Terça-Feira Poética”, coordenado por Guilherme Zarvos.
1995
Curador da exposição “Roland Barthes Artista Amador” e da mostra “Filmes de Allain Robbe-Grillet”, no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro.
Reunião dos hispanistas alemães, em Münster.
20º Encontro Internacional de Poetas, na Universidade de Coimbra.
1996
Conferência sobre o projeto de História da Literatura Latino-americana, em Toronto.


FONTES: